Revista Hospitais Brasil

VEÍCULO DE COMUNICAÇÃO: REVISTA HOSPITAIS BRASIL

http://www.revistahospitaisbrasil.com.br

ANO: 2013

  1. Qual o papel do enfermeiro na higienização hospitalar?

R. Devido a sua abrangente formação profissional, o enfermeiro que trabalha no Serviço de Higienização poderá atuar em todas as interfaces deste serviço com os demais da instituição executando atividades, tais como:

  • gestão do serviço,

  • participação ativa na padronização dos produtos químicos,

  • desenvolvimento de programas de treinamento com competência para ministrá-lo aos colaboradores,

  • elaboração dos POPs (Procedimento Operacional Padrão) de processos relacionados ao serviço,

  • gestão de indicadores e de testes de novas tecnologias,

  • participação na implementação de programas de prevenção de acidentes com perfurocortantes,

  • participação no processo de seleção de candidatos,

  • realização de pesquisas que contribuam para a Gestão da Qualidade do Serviço,

  • participação em eventos relacionados,

  • realização de benchmarking com demais serviços de saúde e principalmente, estabelecimento de parcerias na instituição que valorize a multi e interdisciplinaridade com outros serviços:, como: Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), Processamento de Roupas, Gerenciamento de Risco, SESMT, Qualidade etc.

A complexidade das atividades técnicas e gerenciais exigidas e principalmente o caráter multi e interdisciplinar de decisões neste segmento, praticamente já selecionam um profissional com uma formação plural que viabilize o diálogo e embasamento técnico entre diferentes profissionais da área da saúde para seu comando, sendo o enfermeiro capaz de atender todos estes requisitos.

2.   Qual a importância da comunicação efetiva entre os diversos departamentos das instituições para padronização das ações e troca de experiências?

R. Cada vez mais multi e interdisciplinaridade tornam-se indispensáveis, afinal qual profissional é capaz de tomar decisões e delinear ações estratégicas tão bem sozinho quanto um grupo multidisciplinar?? A resposta é nenhum! A partir do momento que a consequência de uma ação executada em um determinado serviço hospitalar possa atingir direta ou indiretamente outro serviço, deve-se pensar na possibilidade de tomar as decisões em grupo. A minimização de possíveis danos causados por uma decisão precipitada e unilateral só pode ser obtida através da prevenção interfaceada, ou seja, vários olhares para o mesmo problema! Por exemplo, a escolha errada de um produto químico poderá causar danos ao meio ambiente, ao paciente, aos profissionais de saúde e visitantes. A prevenção deste dano pode se dar através de troca de experiência e pareceres de expertises de diferentes áreas, tais como: Gerenciamento de risco, SESMT, SCIH e Higiene por exemplo. O diálogo entre as áreas deve sempre prevalecer!

3.   Como escolher a empresa parceira para os serviços de higienização? O que levar em consideração?

R. Conversar e obter informações dos gestores e colaboradores de instituições que já tiveram serviços prestados pela empresa candidata, pode ser um bom começo; isto ajudará o futuro contratante a traçar um perfil inicial da empresa  pretendente, mas não basta.  Outros pontos são igualmente importantes, tais como:

  • referências técnicas e éticas,

  • situação financeira da empresa,

  • conferir se o futuro parceiro realmente cumpre com suas obrigações trabalhistas e tributárias,

  • expertise técnica nos processos exigidos em serviços de saúde e principalmente definir o que realmente se pretende desta nova empresa, definindo todos os detalhes no contrato.

É preciso atenção, pois não adianta querer pagar pouco e exigir muito. Para que não haja arrependimentos posteriores realize um check list de suas prioridades e solicite uma proposta com tudo o que considere fundamental. O erro recorrente é começar pelo preço, pois muitas empresas conseguirão atingir o patamar almejado, porém poderão deixar a desejar na qualidade, enfim, não existem milagres.

4.      Como deve ser o perfil dos profissionais que atuam na área?

R. Infelizmente, a falta de mão de obra está fazendo com que as exigências para seleção dos candidatos diminuam. Quem não abre mão de um perfil mais exigente, corre o risco de ficar com a vaga descoberta por mais tempo do que esperava ou até mesmo não conseguir preenchê-la. Caso não haja perspectiva de um bom atrativo financeiro, deve-se investir no treinamento da mão de obra já adquirida e na promoção de um clima organizacional satisfatório, com benefícios atrativos. Estamos em tempos de “vacas magras” neste segmento e para os gestores é hora de agir com criatividade para reter aqueles que interessam. É o momento de fazermos mais com menos.

5.     Quais as mais recentes novidades em produtos e equipamentos para higienização hospitalar?

As mais recentes novidades já encontradas em hospitais brasileiros são os monitores de limpeza ambiental, que avaliam e monitoram a limpeza de superfícies, garantindo um padrão de qualidade na limpeza e desinfecção de superfícies. Embora muitas instituições já usufruam desta tecnologia, a maioria dos serviços de saúde ainda desconhece. Quantos aos produtos, temos o grande avanço proporcionado por desinfetantes que dispensam o enxague, eliminando assim etapas da limpeza e aumentando a produtividade e diminuindo o consumo de água. Além disto, não podemos esquecer os equipamentos que realizam limpeza e desinfecção através do vapor e de alta temperatura, dispensando a utilização de químicos.

Silvana Torres

Revista Melhores Práticas em Saúde

VEÍCULO DE COMUNICAÇÃO: REVISTA MELHORES PRÁTICAS EM SAÚDE

www.revistamelhorespraticas.com.br

ANO: 2014

  1. Quem deve realizar a limpeza e desinfeção das superfícies da unidade (ou zona) do paciente?

R. Durante o período de internação, a limpeza (e desinfecção) concorrente das superfícies próximas ao paciente (unidade ou zona do paciente), preferencialmente, devem ser realizada pela enfermagem.

Já, a limpeza terminal, que corre após a alta, todas as superfícies do quarto devem ser executadas pela equipe de limpeza.

A zona do paciente compreende superfícies muito próximas ao paciente (grades da cama, colchões, chamadas de enfermagem, equipamentos, painel de gases etc.), e, portanto, envolve riscos quando a limpeza é realizada pelo trabalhador da limpeza.

Afinal, quem irá se responsabilizar por um cateter, equipo ou dreno desconectado ou repuxado? Ou por uma bomba de infusão desligada ou acionada indevidamente, mesmo que de forma acidental?

Poderia a equipe de limpeza ser responsabilizada?

A resposta é não, pois a equipe não é capacitada para manipular materiais ou equipamentos relacionados à assistência à saúde!

Claro que os colaboradores poderiam ser devidamente treinados para realizar a limpeza e desinfecção sem esbarrar, encostar ou manipular qualquer tipo de dispositivo, entretanto, sabemos que na prática não podemos confiar cegamente que estas recomendações sejam seguidas fielmente.

Primeiro, porque raramente contamos com líderes presentes durante a execução de limpezas concorrentes e segundo porque a rotatividade neste segmento é alarmante e o risco da limpeza concorrente ser realizada por um colaborador recém-admitido e  pior, sem treinamento, infelizmente é alto! Portanto, não vale a pena correr este risco.

Por outro lado, se em sua instituição não existe a possibilidade destas situações adversas ocorrerem e vocês confiem plenamente que nenhum incidente venha a ocorrer, a limpeza destas superfícies poderiam ser executadas pela equipe de limpeza.

  1. Quais as principais medidas de controle para a redução da contaminação em superfície do ambiente?

R. Higiene das mãos antes e após cada procedimento; utilização adequada de luvas tanto pela equipe de limpeza, como pela equipe de enfermagem; remoção rápida seguida de limpeza e desinfecção das superfícies com presença de matéria orgânica; limpeza e desinfecção das superfícies com alta frequência de toques: superfícies próximas ao paciente (grades do leito, controles de TV, chamadas de enfermagem, equipamentos, painel de controle etc.), interruptores de luz, maçanetas, válvula de descarga etc.

Cabe ressaltar que nenhuma destas medidas é efetiva individualmente, fazem parte de um conjunto de medidas de prevenção e controle das infecções, que necessitam de educação permanente, ou seja, treinamento constante.

Além disto, é fundamental o monitoramento das superfícies limpas e/ou desinfetadas para validar a limpeza através de métodos como ATP, marcadores fluorescentes, checklist, dentre outros.

  1. Em suas atividades de consultoria, há iniciativas que a senhora presenciou e que mereceriam ser destacadas no incentivo e educação de colaboradores para lavagem de mãos?

R. Sim, deviso a importância da higiene das mãos para a prevenção e controle das infecções, as iniciativas têm sido cada vez mais criativas e lúdicas, como por exemplo: vídeos, teatros, campanhas institucionais periódicas com abordagem teórica, prática, escolha da melhor frase sobre a importância da higiene das mãos; distribuições de cartilhas ilustrativas (tipo gibis).

Embora todas estas iniciativas resultem em maior adesão à higiene das mãos temporáriamente, a meu ver nada conscientiza mais do que a realização de um estudo institucional, com feedback ao colaborador envolvido, pois uma coisa é você ser treinado, ouvir o que deve ser feito e ser esclarecido sobre a importância e outra é o colaborador tomar conhecimento do que ele e seus parceiros de trabalho têm feito de certo e errado, qual a adesão em sua instituição, qual o consumo esperado do álcool gel e qual o real.

Estratégias como Positive Deviance (ou desvio positivo) sem dúvida têm apresentado bons resultados. A abordagem é feita em etapas: convite a um grupo de pessoas da instituição para enfrentar um determinado problema (p. ex. Baixa adesão à Higiene das mãos), a definição do problema propriamente dito por este grupo; identificação das práticas e crenças que levam ao problema, assim como os fatores de sucesso que levam à solução do mesmo e por fim, a definição de estratégias com monitoramento e avaliação posterior.

Talvez o sucesso desta abordagem se deva ao fato de que as opiniões do grupo são levadas em conta, ou seja, o grupo participa da elaboração das estratégias e tomada de decisões, passando de mero coadjuvantes a protagonistas de mudanças.

  1. Qual a atual taxa média de rotatividade de um funcionário de higiene e limpeza? É considerada alta? Essa taxa é igual para todas as regiões do Brasil?

R. Embora a remuneração neste segmento tenha crescido acima da inflação, a rotatividade do funcionário do setor (não só serviços de saúde) entre 2006 e 2008 foi em torno de 40% ao ano.

  1. Quais as principais causas de afastamento?

R. A principal causa é a mudança do perfil da antiga classe C. Muitos trabalhadores que migraram para a nova classe C buscam remuneração maior que o segmento da limpeza pode proporcionar e daí partem para outro ramo de atividades.

  1. Em seu livro, a senhora reforça a importância da capacitação do funcionário. Como garantir o aprendizado contínuo em uma categoria profissional com alta taxa de rotatividade no emprego?

R. É muito difícil, aliás, em minha opinião este é o maior desafio neste segmento. Encontros com frequência pessoas responsáveis por capacitar colaboradores, os quais reclamam de exaustão e desmotivação de tanto treinar.

É obvio que quem assume esta responsabilidade deve ter aptidão para isto, mas absolutamente ninguém gosta de treinar diariamente pessoas novas, sabendo que no mês seguinte estas pessoas já não pertencerão ao quadro de funcionários da instituição. É um trabalho sem retorno, por este motivo desgastante!

Além disto, o capacitador fica sem tempo para pesquisa, planejamento e aprimoramento em sua área, o que é altamente desmotivador.

Pior ainda é a situação de quem além de treinar, tem outras atividades a serem cumpridas, em muitos casos esta pessoa acaba não fazendo bem nenhuma das duas atividades.

A meu ver as empresas deveriam se unir e investir em um centro de capacitação contínua. Ou seja, um ramo voltado exclusivamente para treinamento teórico e prático.

Como para a maioria das empresas a criação de um departamento exclusivo para a educação continuada é dispendioso e inviável, daí a idéia de unir valores, conhecimentos e recurso em pró a uma causa comum e difícil. Certamente a viabilidade financeira será melhor avaliada pelos gestores.

Um exemplo seria a criação de um centro de excelência na formação de profissionais de limpeza para diferentes ramos: alimentação, serviços de saúde, pós obra, residencial, limpeza urbana, shoppings e bancos etc.

Neste caso, cada empresa contribuinte recorreria a este centro com a certeza de encontrar profissionais qualificados quando houvesse necessidade de contratação.

Isto não quer dizer que resolva o problema da evasão da mão de obra, mas aliviaria a tensão da falta de tempo, motivação e até competência técnica para treinar.

  1. Qual o tempo médio necessário para aprendizagem de um indivíduo sem experiência prévia no segmento de saúde até o desempenho adequado da função, conhecendo os fatores de risco, segurança do paciente, etc.?

R. O que vou colocar é mais focado na minha experiência em serviços de saúde, o que não quer dizer que expresse a realidade da maioria dos serviços próprios ou terceirizados.

Para mim, o tipo de treinamento que dá mais certo é aquele feito em etapas. Não adianta despejar tudo de uma vez para o funcionário, pois ele certamente não irá assimilar. O ideal é meio período por dia. Considerando o total de horas, acredito que para teoria (incluindo dinâmicas e exercícios em grupo) 12 horas divididas em 3 dias abrangeria os principais temas.

Já para a prática, prefiro não me posionar, pois depende de vários fatores: tecnologia disponível para os processos operacionais (equipamentos e materiais utilizados), empenho e disponibilidade institucional para fornecer infraestrutura básica para os treinamentos etc.

Estas 12 horas básicas para o treinamento teórico, não incluem a participação multiprofissional, o que é extremamente relevante! O funcionário tem que conhecer as várias interfaces do serviço, assim como, os profissionais que o representam. Alerto ao fato de que não basta apresentá-los, tais profissionais devem mostrar suas expectativas, o que esperam do serviço. É imprescindível que o colaborador da limpeza sinta-se acolhido, reconhecido e fazendo parte da equipe multiprofissional!

  1. De acordo com a NR-32, a capacitação da equipe de higiene é obrigatória e deve ser documentada. A quem cabe esta responsabilidade no caso de prestadores de serviços terceirizados, ao contratado ou contratante?

R. Segundo a NR32, a responsabilidade é solidária entre contratante e contratado, ou seja, pertence a todos!

Por exemplo, no caso de uma empresa de limpeza terceirizada, se a capacitação por algum motivo não for realizada, a responsabilidade não é só desta empresa, mas também do contratante, sendo assim, ambos são alvos de fiscalização.

  1. Em sua opinião, o que é mais eficiente e por que: estabelecer um rodízio dos colaboradores da higiene e limpeza entre as diversas áreas hospitalares, incluindo as chamadas de críticas, semi-críticas e não críticas ou especializar o colaborador em um mesmo setor?

R. Depende! Se pensarmos apenas em eficiência, teoricamente, a especialização do funcionário em um só setor seria ideal, pois cada vez conhecerá melhor seu setor e poderá desenvolver melhor suas atividades.

Embora a comparação que farei possa ser distante, existe lógica, por exemplo, supõe-se que uma enfermeira especializada em curativos fará um curativo melhor do que aquela que não é especializada. Porque isto ocorre? Não é só pela especialização, mas principalmente pela prática da repetição.

Por outro lado, supondo que o funcionário seja permanente em uma unidade, mesmo assim não estamos livres de problemas, pois a situação ideal é que haja um bom entrosamento e aceitação entre as partes, por exemplo, entre a enfermagem e o trabalhador da limpeza, o que nem sempre ocorre e dependendo do caso é necessário remanejar.

O problema é que a realidade atual não permite isto na maioria das instituições devido ao reduzido quadro operacional, sem contar faltas, folgas etc. e frequentemente temos que dispor do funcionário alocado na área X para ir para a Y quando necessário. Infelizmente isto é mais regra do que exceção.

  1. Qual o perfil socioeconômico, educacional, de gênero e etário do atual funcionário da higiene? É o mesmo perfil que encontrávamos há dez anos? Em caso negativo, o que mudou e o que teria motivado a mudança?

R. Mudou e muito! Com a mudança dos brasileiros de classe social, existem várias situações, a primeira é que muitos que pertencem ao serviço há algum tempo, estão se preparando para sair: estudando, muitos fazendo faculdade, tentando trabalhar por conta própria ou mudar completamente de ramo.

Na segunda situação, os serviços de saúde se sentem tão desfalcados de mão de obra que abrem mão do que no passado era condição essencial: primeiro grau ou apenas ser alfabetizado. Conclusão, muitas empresas têm rebaixado o nível de exigência e tentam driblar as carências dos novos contratados oferecendo oportunidades de escolarização, benefícios etc.

Outra situação é que estamos passando pelo mesmo movimento que os EUA vivenciaram há 20 anos, os quais passaram a contratar basicamente mão de obra de países mais pobres, como os latinos, por exemplo. Basicamente não se encontravam americanos trabalhando com limpeza, esta a situação permanece a mesma até hoje.

No BR não é diferente, quem ainda não contratou refugiados do Haiti, Bolovianos ou Peruanos? Só nos resta saber se esta situação se perpetuará, assim como nos EUA.

Não existem afirmações sobre nosso atual ou futuro perfil da classe de trabalhadores de limpeza, apenas tendências e hipóteses, mas tudo leva a crer que o atual panorama continue.

O que fazer? Abusar da criatividade e fazer mais com menos (o que é difícil!).

11. No capítulo em que trata do uso de carpetes, tapetes e mobiliários, a senhora comenta que nem sempre os aparatos estéticos “transportados” da realidade hoteleira para a hospitalar são adequados do ponto de vista de biossegurança e que é importante a comunicação entre as diferentes equipes – hotelaria, arquitetura e engenharia. Pergunto: Essa comunicação sistemática já é realidade nos hospitais brasileiros?

R. Para a maioria dos hospitais não! Mas como a tendência é que os hospitais busquem cada vez mais certificações de qualidade, provavelmente esta realidade pode mudar nos próximos anos.

  1. Falando sobre terceirização, quando o gestor deve optar por terceirizar o serviço de higiene e limpeza?

R. Prefiro responder quando o gestor não deve optar pela terceirização. Digo isto porque infelizmente grande parte dos serviços de saúde ainda não tem uma idéia clara da terceirização. Os terceirizados devem ser vistos como parceiros, mas na prática nem sempre é assim que funciona…

Presencio muitos gestores hospitalares querendo apenas se livrar de responsabilidades e cortar gastos o máximo possível e é nestes momentos que pensam em terceirizar. O grande problema é que NENHUMA empresa terceirizada poderá em sã consciência, se comprometer a reduzir drasticamente os valores do contrato e ao mesmo tempo prometer a preservação da qualidade do serviço.

Em minha opinião isto deve ficar muito claro antes de fechar o contrato, mas ressalto, não só no contrato! A empresa contratada deve expressar verbalmental o que poderá ser feito e também o que deixará de ser feito com o valor fixado! Não existem milagres!

O que ocorre é que o contratante no ímpeto de ver rapidamente custos menores e balanço positivo, não pensa nas consequências.

Neste caso as duas partes erram: contratante por pensar apenas em corte de despesas e contratado por não ser claro e por querer arrebatar aquele contrato a qualquer custo.

Sinto realmente quando vejo empresas idôneas, sem manchas anteriores no mercado, sendo crucificadas por terem desempenho ruim resultante de um contrato inadequado.

Geralmente o saldo negativo é para ambas as partes, mas o “boato” pode marcar indelevelmente a empresa terceirizada!

  1. Pensando em um organograma, como deve estar estruturado um serviço de higiene e limpeza eficiente?

R. Não existe um modelo único que sirva como exemplo, simplesmente porque em cada instituição existe um modelo gerencial diferente e é isto que vai determinar as matrizes.

O organograma também dependerá da diversidade de serviços oferecidos pela instituição.

  1. Em sua opinião, qual o modelo de escala de carga horária mais eficiente para o colaborador de higiene e limpeza e por quê?

R. Difícil de responder! Temos que confrontar o que é melhor para o serviço de saúde e o que é melhor para o colaborador de higiene para se chegar a um senso comum.

Sob o ponto de vista da instituição, o sistema 12×36 pode ser bom porque o colaborador pode dar continuidade às suas atividades com mais tranquilidade, às quais poderão ter um começo, meio e fim. Por outro lado, é notório o cansaço do colaborador. O esgotamento e a monotonia das atividades podem causar stress, desmotivação e aumentar o défict de atenção, fazendo com que os trabalhadores produzam menos, corra maior risco de acidentes e sejam afetados por problemas de saúde ocupacional e afastamentos com mais frequência.

Já sob o ponto de vista do trabalhador 12×36 é o mais solicitado, pois alegam gerenciar melhor suas atividades particulares nas 36 horas de folga. Será que é isso mesmo?? Negativo! Muitos irão trabalhar em outros estabelecimentos nas horas que deveriam ser de descanso e não raro, retornam esgotados de suas “folgas”.

Existem muitos outros fatores que não estão sendo considerados nesta resposta devido à complexidade do tema. Sugiro uma pesquisa na literatura sobre o tema.

  1. Qual o impacto da eficiência da Higiene e Limpeza na liberação do leito?

R. Dificilmente consegue-se uma limpeza terminal com excelência em 15 ou 30 minutos.

O paradoxo é que é exatamente isto que os hospitais querem: rapidez e eficiência.

Muitos colaboradores, que em um passado não tão distante, eram tidos como exemplares, que faziam o seu melhor, hoje driblam o tempo, deixando muita coisa a ser limpa para trás. A causa? A resposta é: cumprir a meta, ou melhor, cumprir o tempo reduzido imposto e não ser chamado atenção ou até mesmo para não sofrer bullying, sendo taxado de lerdo, obeso etc.

Ao final, estes mesmos funcionários estão exaustos por causa da corrida desenfreada contra o tempo e a limpeza é finalizada com qualidade duvidosa.

O mais espantoso é que cobram rapidez e nem sempre oferecem os materiais e equipamentos minimos necessários e não investem em tecnologia, utilizando pano de chão ou mops de baixa qualidade com fios que não enxugam.

  1. Quais os principais gargalos no processo que atrasam a liberação do leito pela equipe de higiene?

R. Ausência de investimento tecnológico em sistemas informatizados de gerenciamento de leitos (fluxo de controle e liberação de leitos on line); equipamentos de limpeza rudimentares; falta ou falha de comunicação entre as partes envolvidas; atraso do acompanhante para retirada do paciente com alta; funcionários em número insuficiente para realização de todas as limpezas terminais requeridas ao mesmo tempo; demora por parte da enfermagem para retirar dos quartos equipamentos e materiais relativos à assistência à saúde após a alta do paciente.

  1. Sobre a vigilância dos acidentes com perfurantes e cortantes, a senhora diz acreditar que o panorama de eventos tende a cair com a implementação da NR-32, que transfere a responsabilidade do descarte para que os utiliza. Desde a publicação e considerando que a senhora tem acesso a dados atualizados pergunto se sua expectativa inicial tem se cumprindo ou o que faltaria para reduzir eventos adversos desse tipo.

R. Nenhuma instituição deve ficar espantada se os acidentes aumentarem após rigorosa notificação devido a maior esclarecimento e conscientização dos trabalhadores. Isto se deve ao fato que quando ocorre subnotificação, os números caem, mas não porque diminuiram os acidentes.

Embora grande parte das instituições esteja se adequando em termos de responsabilidades do descarte de perfurocortantes, os acidentes com o pessoal da limpeza ainda são altos e noto que em muitos casos se deve à falta de treinamento.

Existe uma lacuna entre o período que em sai uma empresa terceirizada da instituição e entra outra. Neste período muitos acidentes ocorrem porque os responsáveis pela capacitação ainda “não tiveram tempo” de fazer o treinamento. O mesmo ocorre com os funcionários recém-admitidos, que enquanto não recebem treinamento, se acidentam.

Nestas duas situações a NR 32 não está sendo cumprida (o que é passível de notificação e multa), pois a capacitação quanto aos riscos deve ocorrer antes do início das atividades do trabalhador.

Silvana Torres

Portal NASCE CME

VEÍCULO DE COMUNICAÇÃO: PORTAL NASCE CME

www.nascecme.com.br/

ANO: 2014

NASCE: Silvana qual o seu objetivo ao realizar a pesquisa sobre produto químico?

R. As perguntas da pesquisa são as mesmas que sempre faço para os participantes dos meus cursos e treinamentos, mas nem sempre todos se manifestam.

Muitos se sentem intimidados em falar e era justamente este nicho que eu gostaria de atingir com a pesquisa, mesmo que anonimamente, pois os que trabalham em instituições com cultura de qualidade expõem seus resultados com maior facilidade, sempre acabamos sabendo de algo, seja através de estudos ou de relato apenas.

Minha curiosidade é antiga, pois nem sempre consigo visitar hospitais nos estados em que estou realizando algum trabalho. O fato é que resolvi aproveitar meu mailing para concretizar esta pesquisa. Tinha uma percepção, porém não sabia ao certo o quão bom ou ruim era o manejo dos produtos químicos, quem os utiliza e onde etc.

NASCE: quais os princípios ativos autorizados pela ANVISA para uso como desinfetante de superfície?

R. De acordo com o Manual de Limpeza e Superfícies de Serviços de Saúde da ANVISA de 2012, constam comoprincipais princípios ativos:

  • Álcoois

  • Compostos liberados de Cloro ativo: orgânicos e inorgânicos

  • Compostos Quaternários de amônio

  • Monoperssulfato de Potássio

  • Biguanida Polimérica

  • Glucoprotamina

  • Ácido Peracético

NASCE: De acordo com os dados obtidos em sua pesquisa quais os princípios ativos mais utilizados na formulação do desinfetante?

R. Nos resultados obtidos o Hipoclorito de Sódio 1% e o Álcool predominam juntos, com 32% do total.

NASCE: O que se entende por limpeza concorrente e limpeza terminal. A quem compete a realização dessas atividades?

R. Limpeza concorrente é o processo de limpeza realizado diariamente em todas as dependências dos serviços de saúde: quartos e enfermarias, corredores, saguões, instalações sanitárias, áreas administrativas etc.

Tem como objetivo a remoção do pó, sujidades, reposição de material de consumo e organização dos ambientes.

Na Limpeza terminal o processo de limpeza émais abrangente, ocorrendocom periodicidade programadaem todas as superfícies horizontais e verticais das diferentes dependências, incluindo: teto, paredes, vidros, portas, pisos etc. No piso, a limpeza é mais vigorosa quando comparada à concorrente, sendo realizada através de máquina.

A periodicidade dependerá da área onde a limpeza é realizada, sendo que em quartos e enfermarias, ocorre após alta, óbito ou transferência do paciente, não devendo estender-se por mais de 15 dias quando se tratar de áreas críticas.

Competências

Na limpeza concorrente de quartos e enfermarias temos duas situações:

- limpeza concorrente da zona (ou unidade) do paciente:

Fazem parte desta zona, todas as superfícies próximas ao paciente e frequentemente tocadas por eles e/ou por profissionais de saúde, tais como, grades da cama, colchão, mesa de cabeceira e de refeições, chamada de enfermagem, telefone, controle remoto, painel de gases etc., assim como, superfícies de equipamentos relacionados à assistência tais como: bombas de infusão, respiradores etc.

A limpeza e desinfecção das superfícies desta zona é considerada prioritária, pois frequentemente estão associadas àsinfecções cruzadas, principalmente por seu alto número de toques e transferência dos microrganismos de uma superfícies para outra através das mãos ou luvas de profissionais de saúde. Por estarem muito próximas ao doente, a limpeza destas superfícies envolvem riscos quando executadas sem o devido preparo e conscientização profissional.

Embora seja de conhecimento de todos que a enfermagem deva se encarregar prioritariamente da assistência e que seu quadro encontre-se frequentemente desfalcado, os benefícios de se incorporar esta prática às tarefas de enfermagem apresenta vantagens epode minimizar riscosquando comparado com a realização deste processo pelo pessoal de limpeza.

Exemplos de riscos envolvidos durante a execução da limpeza da zona do paciente:

Desconexão ou deslocamento de cateteres, drenos ou sondas durante a operação de limpeza; toque no paciente que pode estar colonizado por microrganismos multirresistentes etc.

- limpeza concorrente de superfícies que não façam parte da zona do paciente (piso, banheiro etc.):

Com exceção da zona do paciente, a equipe de limpeza poderá realizar seus processosnas demais superfícies (cabíveis em uma limpeza concorrente), sem comprometer a segurança do paciente.

Já na Limpeza terminal todas as superfícies poderão ser assumidas pela equipe de limpeza, já que o paciente não se encontra na dependência, exceto equipamentos, os quais deverão ser retirados pela enfermagem antes do início do processo de limpeza terminal.

NASCE: Quais áreas são consideradas críticas no ambiente hospitalar e qual o tipo de desinfetante é mais recomendado em termos de princípio ativo para limpeza e desinfecção desta área?

R. A resposta dependerá de qual classificação for utilizada. Por exemplo, se utilizarmos a classificação do guia do meio ambiente do CDC, 2003 (Centers for DiseaseControl and Prevention), esta será baseada no risco de transmissão de infecção através das mãos, ou seja, a classificação divide as superfícies em dois tipos: superfícies mais e menos tocadas pelas mãos. Esta é a classificação mais referenciada quando a relacionamos com a prevenção de infecções relacionadas à assistência à saúde. Neste caso voltamos à questão anterior, onde se prioriza as superfícies da zona do paciente como sendo a mais importante aoconsiderarmososriscos de infecções cruzadas. Para tais superfícies realiza-se não só a limpeza, mas também desinfeção.

Com relação ao tipo de princípio ativo, qualquer um dos que estão relacionados na resposta de número 2, poderão ser utilizados. Dentre outros critérios, a escolha do desinfetante deverá basear-se nos microrganismos predominantes em sua instituição, principalmente os multirresistentes e em seguida conferir se o espectro de ação do princípio ativo pretendido atua de forma eficaz contra os microrganismos em predominância.

Por exemplo, se quiser combater o Clostridium difficile, apenas compostos clorados poderão executar este papel.

NASCE: A terceirização do serviço de limpeza nas instituições de saúde é uma realidade nacional. Existem evidências que esta prestação de serviço apresenta resultados eficazes e eficientes?

R. O sucesso da terceirização depende de vários fatores, dentre eles: a expertise da empresa no segmento saúde, do contrato de trabalho bem elaborado onde ambos (hospital e empresa terceirizada) são beneficiados (política do ganha-ganha), do cumprimento da NR 32, principalmente no que diz respeito à responsabilidade solidária entre contratantes e contratados.Em suma, a terceirização tanto poderá ser um sucesso, como um fracasso, dependerá de esforços mútuos! É imprescindível o benchmarking antes da contratação.

NASCE: Comente alguns aspectos relevantes obtidos com a realização da pesquisa.

Um dos aspectos que mais me chamou atenção não está aparente nos resultados, pois ocorreu em uma fase anterior à tabulação, nos bastidores da pesquisa.

Um número expressivo de encarregados, líderes e supervisores de limpeza, me enviou e-mail alegando que não tinham conhecimento suficiente para responder as questões. Eu retornei a cada um e solicitei que direcionassem a pesquisa para profissionais de sua instituição que tivessem conhecimento para tal.

O que realmente surpreendeu é que praticamente 100% destes retornaram dizendo que apenas eles sabiam o que ocorria com a limpeza em suas instituições, desde a padronização de químicos, até a realização de treinamentos e elaboração de POPs. Alegaram que até gostariam do apoio de outros serviços, mas não conseguiram até então.

Isto é assustador! Principalmente se considerarmos que são estes os profissionais responsáveis pelo treinamento e desenvolvimento dos colaboradores do serviço de limpeza e não estão tendo interfaces com serviços fundamentais que poderiam dar suporte e apoio às Boas Práticas de Limpeza de Superfície, tais como: SCIH, Gerenciamento de Risco, Qualidade, Hotelaria etc..

Cabe uma reflexão: quem responde pela limpeza de nossos serviços de saúde está realmente preparado para tal função??

Silvana Torres

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